O escritor e antigo secretário-geral da União dos Escritores Angolanos (UEA),Carmo Neto, defendeu, ontem, em Luanda, a importância de se criar políticas que incentivem o surgimento de mais bibliotecas pelo país, para incentivar o gosto pela leitura, principalmente na juventude.
Em entrevista, ao Jornal de Angola, Carmo Neto disse que com o surgimento de mais espaços de leitura vai ao longo dos tempos, permitir o fomento de debates construtivos e a criação de novos factos culturais. Enquanto esteve no cargo de secretário-geral da UEA ressaltou que ajudou a dinamizar os programas culturais existentes e deixou um legado.
O escritor observou que na maioria das escolas, quer as recuperadas, quer as construídas de raiz, continuam a pecar por falta de espaços de leitura e bibliotecas onde os estudantes possam ter contacto permanente com os livros e criar hábitos de leitura. O escritor vê o surgimento de novos talentos na literatura angolana, como uma forma de resiliência dos jovens, porque embora exista a falta de bibliotecas e livrarias, tem estado a existir o aparecimento do que considera de “boas propostas no domínio da literatura”, apesar de não ser com a qualidade e quantidade desejada.
De uma forma geral, disse, a “safra” é satisfatória. Hoje, ressaltou, é importante também observar que no mercado literário angolano “deixou de existir alguns concursos que de certa forma, serviam de estímulo para o surgimento de novos escritores”.
Como exemplo, citou o prémio “Quem me dera ser onda”, em homenagem ao escritor Manuel Rui, anteriormente promovido pela União dos Escritores Angolanos (UEA). O prémio, disse, chegou a ter carácter nacional, cujo impulsionador foi o antigo presidente da assembleia-geral da UEA, Adriano Botelho de Vasconcelos.
Nessa época, lembrou, a direcção promovia actividades que enriqueceram a vida cultural do país, anualmente, materializando os programas das linhas de acção. ” Foram feitos da direcção que até hoje os resultados são visíveis, porque deixamos a União dos Escritores Angolanos, activa e funcional. Não é fácil gerir aquela instituição, que por sinal é a primeira associação cultural criada um mês após a proclamação da independência nacional.”
Reconheceu que a actual direcção, tem feito o possível para conseguir manter a instituição no activo diante dos vários problemas de ordem financeira. A “Casa das Letras” foi proclamada a 10 de Dezembro de 1975, em Luanda, sendo o Fundador da Nação e Poeta Maior, Agostinho Neto, o primeiro presidente da assembleia-geral e Luandino Vieira, a ocupar o cargo de secretário-geral.
Os feitos do contista
António Francisco Luís do Carmo Neto nasceu no dia 16 de Outubro de 1962, na província de Malanje. Carmo Neto lançou o seu primeiro livro “A forja”, em 1985, seguindo-se, “Meu Réu de Colarinho Branco”, 1988, “Mahézu”, 2000, “Joana Maluca”, 2004, e “Degravata”, em 2007. Os contos de Carmo Neto integram diversas antologias publicadas em Angola e no estrangeiro, estando traduzido em inglês, francês, árabe e espanhol.
“Oxalá cresçam pitangas, literatura de Angola, um livro bilingue” é o título de uma sugestiva colectânea de textos poéticos e ficção narrativa, em língua portuguesa, traduzidos em alemão, que inclui poemas e contos de treze autores de diversos períodos e gerações literárias. A antologia inclui escritores consagrados como Agostinho Neto, com o texto, “Poema”, e Arnaldo Santos, com o “Desterro do ambaquista”. No domínio da ficção narrativa, a colectânea inclui ainda Zetho Cunha Gonçalves, com o conto, “O inferno e a morte na palma da mão”, Tuzuary Nkeita, com “A Caixa Negra”, Roderick Nehone, “Catador de Bufunfa”, Isabel Ferreira, “Xaimita zungueira-fina”, Sónia Gomes, “A filha do general”, Amélia Dalomba, “O mar no signo do laço”, Arnaldo Santos, “Tesouro de quianda”, João Melo, com “O engenheiro nórdico” e Carmo Neto com o conto, “Ah! Jeremias”.